Imbróglio

Queima de arquivo em escola de Niterói vira caso de polícia

Caso foi denunciado por pai de aluno que alega crime na prática

Centro Educacional de Niterói (Centrinho), no bairro Pé Pequeno
Centro Educacional de Niterói (Centrinho), no bairro Pé Pequeno |  Foto: Lucas Alvarenga
 

Pais e responsáveis de alunos do Centro Educacional de Niterói (Centrinho) denunciam que o acervo com os arquivos dos estudantes foram destruídos pelo casal que assumiu a gestão da unidade de ensino. A atual gestão confirmou a acusação e o caso foi parar na delegacia, sendo registrado na 77ª DP (Icaraí).

O administrador de empresas Guilherme Brondi, de 44 anos, tem um filho que estuda no local, e outro que já se formou. Segundo ele, o mais velho, que já finalizou os estudos, está encontrando dificuldades em se matricular na faculdade por conta da falta do histórico escolar.

Nos últimos dois anos comecei a perceber uma alteração da metodologia de ensino da escola. Eu vi caixas box jogadas no fundo da rua e suspeitei que tivessem dado fins em documentos Guilherme Brondi, pais de alunos
  

"Eu vi caixas box jogadas no fundo da rua onde fica a escola. Suspeitei que tivessem dado fins em documentos, porque o meu filho mais velho, que estudou muitos anos na escola, precisou do histórico escolar para fazer matrícula na UFF e não conseguiu. Eles [o casal] alegaram que o documento estava com a Fubrae, só que todos sabiam que os documentos estavam na escola", explicou.

Apesar dos problemas, a atual direção da unidade diz que as aulas estão normais
  

A gestão do colégio pertencia à Fundação Brasileira de Educação (Fubrae), mas, devido a um contrato de cogestão com a Empresa Sistema Educacional CEM Ltda, a unidade foi repassada para o casal. Desde então, o responsável começou a perceber mudanças na unidade. Apesar dos problemas, a atual direção da unidade diz que as aulas estão normais. 

"Nos últimos dois anos comecei a perceber uma alteração da metodologia de ensino da escola, das filosofias construtivistas e até do comportamento dos profissionais. Logo o Centrinho, que é reconhecidamente, em Niterói, uma escola diferenciada pela liberdade de pensamentos e expressões dos alunos, pelo incentivo ao tratamento igualitário e humanizado", ressaltou.

Nova direção confirmou que os arquivos com os históricos dos alunos foram queimados
Nova direção confirmou que os arquivos com os históricos dos alunos foram queimados |  Foto: Lucas Alvarenga
  

A Fubrae retomou o controle da instituição na última quinta-feira (25), afastando o casal das atividades administrativas da unidade. Mas, segundo os responsáveis, os antigos gestores possuem as senhas e acessos de redes sociais, o que ainda gera preocupação. 

A Polícia Civil informou que os envolvidos serão ouvidos e diligências serão realizadas para esclarecimento dos fatos. 

O que a unidade diz

Funcionários da atual administração, que preferiram não se identificar, confirmaram as denúncias e a queima dos documentos no pátio da escola. 

Ao ENFOCO, a direção e os advogados do colégio informaram que, para superar um momento de crise, foi necessário realizar um contrato de cogestão com a empresa citada.

"Em 2007, a fundação do Centrinho estava passando por problemas financeiros e pensamos o seguinte: vamos chamar um investidor, uma empresa, para entrar aqui e ajudar a gente a pagar as dívidas, colocar mais alunos, para conseguir equilibrar as contas. E aí chamamos uma empresa, Empresa Sistema Educacional CEM. Fizemos esse contrato com essa empresa. Então, o objetivo era só prestar esse serviço para a Fundação", contextualizou o advogado da unidade, Luiz Antônio de Lemos, sobre o motivo da empresa ter atuado em conjunto com a unidade.

Não há dimensão do que foi destruído, segundo os responsáveis
Não há dimensão do que foi destruído, segundo os responsáveis |  Foto: Lucas Alvarenga
  

O objetivo da contratação da empresa, ainda de acordo com o advogado, era prestar auxílio e ajudar a superar um período complicado para a gestão, e que os problemas começaram a ficar mais evidentes em 2017, quando o Sistema Educacional CEM foi vendido para o então casal citado. 

"Só descobrimos que a empresa foi vendida para esse pessoal quando os funcionários chegaram e eles estavam aqui dentro. A partir de 2017, para 2018, os problemas começaram a acontecer. Eles expulsaram a diretora daqui, ela não podia mais entrar, pôr os pés aqui, e depois foi a nossa equipe técnica", continuou. 

Materiais também foram jogados e espalhados dentro da unidade
Materiais também foram jogados e espalhados dentro da unidade |  Foto: Lucas Alvarenga
  

Em 2018, a equipe da Fubrae entrou com um processo judicial para rescindir o contrato de cogestão e assumir o controle, novamente, do colégio. Por meio de nota, a atual direção lamentou o ocorrido e pediu desculpas aos pais, alunos, colaboradores e funcionários da escola 'pelo desconforto e insegurança' que o contrato trouxe nos últimos anos.

"Em 25 de agosto, quando retomamos o colégio e conseguimos novamente ingressar em suas dependências, nos deparamos com um cenário triste, a escola não era mais o nosso Centrinho, muito embora a empresa que realizava a cogestão tivesse nos usurpado esse nome", diz a nota.

Acervo queimado

Sobre a queima do acervo dos arquivos dos alunos, os gestores informaram que após a retomada e uma busca complexa pela unidade, não encontraram a documentação. Foi então que um funcionário percebeu papéis destruídos no pátio da unidade. 

"Nós verificamos e identificamos que tinha histórico escolar, a vida acadêmica toda dos alunos da Fubrae. A gente não tem dimensão ainda, estamos encontrando documentos. Fomos na delegacia e fizemos o B.O no mesmo dia", relatou outra advogada. 

Sobre a insegurança em relação à senhas de sistema, a direção disse já ter tomado as medidas necessárias de precaução para garantir o acesso de todos os alunos. 

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