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A paixão de Cristo

Imagem ilustrativa da imagem A paixão de Cristo
É impossível negar a relevância do Cristianismo, em todas as áreas do conhecimento, quais sejam a filosófica, a religiosa, a histórica, a jurídica. Foto: Divulgação

A Páscoa foi celebrada no último domingo (4). A ressurreição de Jesus é motivo de júbilo e regozijo para todos nós. É a restauração da ordem perdida. A criação de uma nova civilização. Afinal, Ele nos prestou o testemunho da vida eterna, evidenciando ser o filho de Deus.

O nascimento de Jesus foi o marco de início de uma era. Nosso calendário conta os anos a partir dessa data.  Nossas referências históricas vêm precedidas de AC DC (Antes e depois de Cristo). Os evangelhos também. O Novo e o Antigo Testamentos. É impossível, portanto, negar a relevância do Cristianismo, em todas as áreas do conhecimento, quais sejam a filosófica, a religiosa, a histórica, a jurídica.

Seu martírio, sua crucificação e morte há 1988 anos, os flagelos por Ele sofridos, as chicotadas, cusparadas, torturas e xingamentos a que foi submetido, não podem ter sido em vão. Sua via crucis até o monte do Calvário, onde foi pregado na cruz e esperou pela morte, não sem antes perdoar um ladrão e entregar Maria, sua mãe, à humanidade como mãe de todos, e em especial a João Evangelista, que o acompanhou até o seu momento final, precisam ser intensamente relembrados, revividos, reverenciados.

Naquele tempo, Jerusalém era - embora mal posicionada geograficamente e com produção muito escassa de bens de consumo - muito importante para o comércio, a religião e a política. A ela acediam peregrinos de todos os lugares, a fim de fazerem suas ofertas e orações, bem como efetuarem a venda de mercadorias. O tráfego de pessoas e animais era intenso, e a cidade era muito rica e poderosa.

Jesus ali adentrara triunfalmente pela porta dourada, no domingo anterior à Páscoa (conhecido como domingo de Ramos, posto que os fiéis espalharam ramos de palmeiras, para recebe-lo), sendo aclamado pelo povo como filho de Deus. Isso deixou os sacerdotes muito incomodados e ameaçados, com a influência daquele homem e de seus ensinamentos sobre as pessoas. Como um desconhecido maltrapilho, montado em um burrico, poderia intitular-se filho do único Deus existente?

Jesus manifestara o firme propósito de ir a Jerusalém, mesmo sabendo que por lá, o pior lhe aguardava. Declarou isso a seus discípulos, dizendo que lá seria “entregue aos príncipes dos sacerdotes e aos escribas”, que iriam condená-lo à morte. Ainda assim, manteve-se fiel à sua missão, seguindo o caminho trilhado por seu Pai. Sabia das provações que o aguardavam, mas não tinha medo. Disse, inclusive, a seus Apóstolos, que seria traído por um deles ( Judas Iscariotes), e que ressuscitaria ao terceiro dia, após a sua morte.

Na quinta feira à noite, Jesus realizou a última ceia de sua vida, rodeado por seus Apóstolos. Logo após a refeição, foi preso e conduzido ao Grande Sinédrio, a suprema corte judia legislativa e judicial da cidade. Lá, foi condenado à morte, pelos Sacerdotes e Fariseus, que o encaravam como um inimigo em comum, por alertar contra a hipocrisia dos poderosos e seus ensinamentos falsos. Logo após promover a ressurreição de Lázaro na frente do povo, o que afirmava sua autoridade perante todos, os membros do Sinédrio decidiram que Ele precisava ser contido.

Ao iniciar-se seu interrogatório, Jesus, fiel à sua verdade, informa que é o filho de Deus, e que seu Reino não é deste mundo. Surge, aí, uma trama, por meio da qual o Sinédrio o acusa de pleitear, com esses dizeres, o Reino de  Israel, razão pela qual merece morrer, por tratar-se este de um delito político, único capaz de gerar uma sentença de morte.

Caberia ao governador e procurador-geral, Pôncio Pilatos, a decisão final. Este, muito embora não tenha identificado crime algum, na conduta de Jesus, acabou dando à multidão uma escolha, para apaziguar os ânimos exaltados: Jesus de Nazaré ou Barrabás (um conhecido malfeitor).

Pilatos lavou as mãos, abstendo-se de decidir, soltou o criminoso a pedido da horda, e entregou Jesus aos guardas, para que fosse torturado e depois, crucificado. Para evitar o tumulto e manter a paz, condenou-o à morte, sem processo legal, sem acusação por qualquer crime cometido, sem sentença. Jesus é flagelado, recebe a coroa de espinhos, e já desfigurado, humilhado e ensanguentado, segue para a crucificação.

Pilatos, apesar de afirmar que não extraíra, da conduta do Cristo, qualquer delito a punir, decidiu-se pela crucificação. Entre a verdade e a mentira, escolheu a segunda. Agiu com tirania, preferindo exercer seu poder para o mal, por não haver vislumbrado, ali, uma verdade. Entretanto,  fez essa escolha para manter-se em sua posição de comando.

O Nazareno era um perigo para uma sociedade que vivia do poder, da subjugação dos pobres, da exaltação de vários deuses e da luxúria. Porque um homem que clamava a todos que abandonassem tudo para segui-lo, prometia um Reino dos Céus, e nada pedia em troca, exceto que nEle acreditassem, subverteria toda a ordem da Civilização, da forma que era conhecida por todos.

Um homem que desejava a paz, pregava o amor e a verdade era algo para o que o mundo não se preparara... e que os poderosos não aceitariam. Imaginem: o dinheiro e o poder deixariam de ter importância, a ordem social seria completamente modificada, o que feriria uma série de interesses das classes mais abastadas.

A verdade trazida por Jesus era por demais inconveniente, como o são todas as verdades irrefutáveis. Essa verdade reluzia e fascinava a todos que paravam para ouvi-la com o coração, e por isso tornava-se tão ameaçadora. Contudo, até hoje, quase dois mil anos depois, não conseguimos compreender que o que importa é o amor. As verdades ditas pelo Mestre continuam sendo ignoradas.

O poder e as riquezas deste mundo continuam sendo cobiçados pelos homens, em uma busca frenética e inesgotável. Um homem morreu por nós, tendo sofrido todo tipo de tortura e humilhação, para mostrar à Humanidade o quanto nos amava, e o quanto os valores perseguidos estavam equivocados. Ele deve estar muito decepcionado, observando, do Alto, o que nos tornamos como Humanidade. Precisamos olhar para cima, e buscar viver como Ele nos ensinou.

“Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, a não ser por mim”

João, 14:6

A niteroiense Erika da Rocha Figueiredo é escritora, promotora de Justiça Criminal, Mestre em Ciências Penais e Criminologia pela UCAM, membro da Escola de Altos Estudos em Ciências Criminais e do MP Pro Sociedade, aluna do Seminário de Filosofia e da Academia da Inteligência. Me segue no instagram @erikarfig

Texto extraído da Tribuna Diária publicado em 05/04

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