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Meio milhão de mortes por Covid-19 no Brasil

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Marca foi atualizada neste sábado (19). Foto: Arquivo / Pedro Conforte

Com número aproximado a população de Niterói, a pandemia da Covid-19 já tirou a vida de 500 mil pessoas em todo o Brasil. A marca foi atualizada pelo Ministério da Saúde neste sábado (19).

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), até o ano passado eram 515.317 mil habitantes em Niterói — o dado demonstra que o município da Região Metropolitana do Rio seria praticamente dizimado pelo vírus, a partir da contagem feita pela pasta do Governo Federal — tendo que recomeçar do zero, com as poucas milhares de pessoas que sobreviveriam ao inimigo invisível.

O país segue registrando quase 2 mil óbitos/dia, em meio ao andamento da vacinação e sucessivas burocratizações para entregas de insumos e imunizantes no país. Isso significa que dentro de uma semana, ocorrem, em média, cerca de 14 mil mortes por complicações da doença na soma dos estados.

Até o momento, foram enviadas a estados e municípios 115,1 milhões de doses de vacinas contra a Covid-19. Deste total, foram aplicadas 79,7 milhões de doses, sendo 57,4 milhões da 1ª dose e 22,2 milhões da 2ª dose, até a última sexta-feira (18). Os dados constam no painel de vacinação do Localiza SUS, plataforma do Ministério da Saúde que apresenta as informações sobre vacinação no Brasil.

O ranking de estados com mais mortes pela Covid-19, até a sexta, era liderado por São Paulo (121.238). Em seguida vêm Rio de Janeiro (53.923), Minas Gerais (44.068), Rio Grande do Sul (30.276) e Paraná (29.674). Já na parte de baixo da lista, com menos vidas perdidas para a pandemia, estavam Roraima (1.700), Acre (1.728), Amapá (1.792), Tocantins (3.072) e Alagoas (5.094).

Famílias impactadas

O luto atinge em cheio às famílias. Além disso, a pandemia impôs um sofrimento sem precedentes para milhares de brasileiros, que perderam entes queridos muitas vezes sem poder se despedir.

Velórios e enterros passaram a ter restrições para reduzir a possibilidade de transmissão do vírus. Histórias tristes como de Michele Alves, de 37 anos, que perdeu a mãe por complicações da doença, são cada vez mais comuns.

Sendo uma das vitimadas pelo novo coronavírus, Sandra Alves Conceição, de 61, morava no bairro Santa Catarina, em São Gonçalo. Era viúva, e deixou uma filha de sangue, a Michele - além da filha de coração: Raquel Alves.

E muita tristeza aos amigos e demais familiares desde aquele fatídico dia 3 de novembro de 2020. Após quase um mês internada no CTI do Hospital Municipal Che Guevara, em Maricá, ela sofreu uma parada cardiorrespiratória. O reconhecimento do corpo foi feito por foto. O enterro teve que ser em caixão fechado, e apenas 15 minutos para despedida.

"Foi duro demais, a tristeza ainda invade a gente, viver com a ausência dela é horrível, mas nos apegamos em Deus, pois Ele sabia o melhor pra ela e para todos nós. Aqui ficou a saudade, e a tristeza de não poder mais compartilhar a vida com uma pessoal espetacular. Um vazio enorme, que nunca será preenchido. Ela partiu e aqui deixou a saudade, corações despedaçados. Mas temos a certeza que Ela está com Deus e descansa em paz com Ele"

A Raquel, sobrinha e filha de coração, contou que cada dia da Sandra no hospital era uma agonia, já que precisava aguardar por uma ligação do médico para falar sobre o estado dela.

"Como os médicos mesmo diziam, era um dia de cada vez. Tínhamos muita fé na melhora, apesar de estarmos com o coração super apertado. De início as notícias até geravam uma certa esperança, era a tentativa de tirá-la do respirador, mas ela se agitava muito, brigava com o aparelho e não tínhamos sucesso, precisava ser sedada novamente. No dia 3 de novembro [2020], os funcionários do hospital começaram com a musicoterapia, com os pacientes internados no CTI, e logo após eles cantaram louvores, ela passou mal, teve parada cardiorrespiratória, e não resistiu. Foi a pior notícia das nossas vidas, perder nosso amor, nossa mãe, nosso tesouro", lamenta.

Absurdo

Para Nayá Puertas, Médica de Família e Diretora do Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro - SINMEDRJ, o Brasil não se preparou em março de 2020 para a chegada do vírus. Ela critica a falta de orientação eficaz, segundo ela, por parte do Governo Federal.

"Custou muito a orientar algum distanciamento social. E não foi o Brasil, o país, mas principalmente o Governo Federal, e o Ministério da Saúde, que é quem teria que centralizar a questão do vírus da Covid-19 e orientar os estados e municípios. Por isso começamos aquela onda de aumento de casos e grande número de infecções em março e abril"

Para a médica, que trabalha numa Clínica da Família no Rio, o processo de vacinação no Brasil impacta diretamente na alta taxa de mortalidade nos estados.

"O impacto é muito grande. Porque quanto mais pessoas vacinadas, mais a população está protegida, tanto de ter a doença, quanto de transmitir. Muitas pessoas vacinadas podem ter o vírus da Covid, mas não desenvolver a doença. Transmitem, mas menos. Agora, a nossa vacinação é muito lenta. Por que? Porque não se garantiu doses de vacina suficientes. Oferecido pelos laboratórios foi, mas o Governo Federal se atrasou nisso. E se não fosse a Fiocruz com a AstraZeneca, em trabalho junto à Universidade de Oxford, não fosse o Instituto Butantã, em São Paulo, com a Coronavac, nós praticamente não teríamos tido vacinação", relata.

Para Nayá, "é um absurdo" o país ter por volta de 11% da população vacinada com duas doses até o momento.

"É pouca gente. A população tinha que estar muito mais vacinada. A gente tem visto nos outros países em que a vacinação avançou, que diminuíram os casos de Covid-19. Nós não: a nossa curva média é muito alta. Então, a questão dessa vacinação lenta é por não ter vacina. Não é porque nós não tenhamos capacidade de vacinar grande número de pessoas em um dia. O SUS está aí para isso e fez e é o que está fazendo. E o principal combate à pandemia está sendo feito pelo SUS e a vacinação também. Então essa questão da vacina impacta enormemente nessas 500 mil vidas perdidas pela Covid", finaliza.

Inimigo da vacina?

Presidente Jair Bolsonaro discursa após cerimônia de posse do Ministro de Estado da Cidadania, Joao Roma, e do Ministro de Estado Chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Onix Lorenzoni e sanção da Lei da Autonomia do Banco Central
Presidente Jair Bolsonaro discursa após cerimônia de posse do Ministro de Estado da Cidadania, Joao Roma, e do Ministro de Estado Chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Onix Lorenzoni e sanção da Lei da Autonomia do Banco Central |  Foto: Presidente Jair Bolsonaro discursa após cerimônia de posse do Ministro de Estado da Cidadania, Joao Roma, e do Ministro de Estado Chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Onix Lorenzoni e sanção da Lei da Autonomia do Banco Central
Presidente Jair Bolsonaro se revelou contra o distanciamento social e ações de lockdown no decorrer da pandemia. Foto: ebc

No final do ano passado, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que o Governo Federal não compraria a vacina CoronaVac, à época ainda em processo de desenvolvimento pela farmacêutica chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan.

De acordo com Bolsonaro, antes de ser disponibilizada para a população, a vacina deveria ser “comprovada cientificamente” pelo Ministério da Saúde e certificada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Naquela conjuntura, a CoronaVac já estava na Fase 3 de testes em humanos e, considerada pelo Instituto Butantan como uma vacina segura, ou seja, sem apresentação de efeitos colaterais graves.

Ao longo da pandemia, Bolsonaro já usou as palavras "fantasia" e "histeria" para classificar a reação da população e da imprensa à pandemia, além de criticar as medidas de distanciamento social. Em março de 2020, ele tranquilizava a população a respeito da chegada do novo coronavírus no país. Dizia que "não há motivo para pânico".

Também já disse que o Brasil estava vivendo "um finalzinho de pandemia" e, dentre as falas mais polêmicas sobre a Covid-19 foi "uma gripezinha".

O primeiro caso da doença foi confirmado pelo Ministério da Saúde no dia 29 de março de 2020 e segundo boletim publicado pela pasta, naquela conjuntura o país contava com apenas 13 pacientes infectados pelo vírus e 768 casos suspeitos.

Um ano depois, o Ministério da Saúde dispensou licitação para a compra de vacinas contra a Covid-19 junto aos laboratórios Janssen Pharmaceutica e Pfizer, dentre outras. O valor total era de quase R$ 8 bilhões, sendo R$ 2,139 bilhões para a Janssen; e R$ 5,63 bilhões para a Pfizer.

No dia 12 de março deste ano, a Organização Mundial da Saúde (OMS) aprovou, em caráter emergencial, a produção da vacina Janssen, de dose única, da farmacêutica norte-americana Johnson & Johnson, para uso contra a Covid-19.

Com mudança de tom, recentemente Bolsonaro comemorou o acordo de transferência de tecnologia para a produção de vacinas no Brasil entre a Astrazeneca e a FioCruz e destacou as 100 milhões de doses de vacinas distribuídas a estados e municípios.

“Com isso passamos a integrar a elite de apenas cinco países que produzem vacina contra a Covid no mundo”, disse.

Bolsonaro contou, na último dia 3, durante pronunciamento na TV, que "sente profundamente cada vida perdida no país" e que "o Brasil é o quarto país que mais vacina no planeta", apesar de ser protagonista de falas controvérsas e negar acerto de compras de imunizantes de maneira antecipada.

Vacinações em municípios

Quase 300 mil pessoas já foram vacinadas com a primeira dose em São Gonçalo. Foto: Lucas Benevides

Desde o início da campanha, São Gonçalo vacinou com a primeira dose, até a última sexta-feira (18), 296.328 pessoas, sendo 31.260 trabalhadores da saúde, 135.172 idosos com mais de 60 anos, 1.692 funcionários e pessoas em Instituições de Longa Permanência (Ilpis).

Além de 105 pessoas de residências terapêuticas, dois indígenas, 76.287 pessoas com comorbidades, 1.148 pessoas com deficiência permanente, 6.917 trabalhadores da educação, 304 trabalhadores das forças de segurança e salvamento, 2.751 acamados, 37.993 pessoas da população em geral com mais de 46 anos, 1.765 pessoas privadas de liberdade, 39 pessoas em situação de rua e 893 gestantes e puérperas. Até as 15h da última sexta-feira (18), 141.172 pessoas tinham sido imunizadas com a segunda dose.

A Secretaria Municipal de Saúde de Niterói informa que até a última quinta-feira (17), 249.615 pessoas foram imunizadas com a primeira dose da vacina contra a Covid-19 e 98.841 já receberam a segunda dose, totalizando 348.456 doses aplicadas no município. Já são 1.850 vidas perdidas para a doença na cidade. No decorrer da pandemia, até a última atualização dos dados, foram contabilizados 39.077 casos confirmados. Desse total, 36.022 recuperados.

A pasta informa que os dados atualizados sobre a pandemia estão disponibilizados em um painel digital e interativo, que pode ser acessado no link www.niteroi.rj.gov.br/painelcovid.

"A Secretaria atualizou a base de dados usada para planejar as ações de enfrentamento ao coronavírus em Niterói, com o objetivo de ampliar a transparência", disse em nota.

A Secretaria conduziu levantamento de todos os óbitos confirmados por Covid-19 ou registrados como suspeitos da doença desde as primeiras mortes em março de 2020 na cidade. O trabalho incluiu a busca em cartórios de outros municípios, a exclusão de dados registrados em duplicidade e inclusão de pacientes internados em outras cidades.

Mais vacinas

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Governo Federal argumenta que bilhões já foram investidos na compra de vacinas. Foto: Ascom Itaboraí

A previsão é de que, em junho, o Ministério da Saúde receba dos laboratórios aproximadamente 40 milhões de doses de vacinas Covid-19.

Segundo o Governo Federal, até agora, maio foi o mês com a maior distribuição desde o início da campanha nacional, com o envio de mais de 33 milhões de doses de imunizantes para todo o país.

O governo Bolsonaro disse ter investido R$ 29,9 bilhões para a compra de vacinas Covid-19. E que mais de 600 milhões de doses estão encomendadas para serem entregues até o fim do ano, após acordos fechados com diferentes laboratórios, conclui a pasta de Saúde.

CPI

Em abril deste ano foi instaurada a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia, quando o Brasil estava na marca de 380 mil mortos. É necessária para investigar as ações do Governo Federal e o repasse de verbas a estados e municípios para o combate à Covid-19.

O senador Omar Aziz (PSD-AM) foi eleito o presidente da CPI da Pandemia. Enquanto o vice-presidente escolhido foi o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).

Também são assunto da CPI as medidas sanitárias contra o vírus, insumos para o tratamento de pacientes e a situação do Amazonas, primeiro estado a reportar desabastecimento nos hospitais. Diversas autoridades já foram ouvidas, entre elas o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello.

Até impeachment...

Ex-governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, acabou desligado do cargo após acusações de corrupção. Foto: Marcelo Tavares

Em uma votação unânime, o Tribunal Especial Misto aprovou em maio o impeachment do então governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, que já estava afastado desde agosto de 2020. Com isso, Cláudio Castro assumiu definitivamente como governador do Estado.

Além disso, nove dos dez integrantes também decidiram que o agora ex-governador do Rio de Janeiro ficará inelegível por cinco anos.

Wilson Witzel foi denunciado pelo Ministério Público Federal por participação em um esquema de desvios de recursos na área da saúde, que seriam aplicados no combate à pandemia de Covid-19.

Os hospitais de campanha no Estado foram alvos de polêmicas, já que os projetos nos municípios foram mal administrados pela autoridades, deixando milhares de pacientes à própria sorte em unidades já impactadas com as demandas do dia a dia.

Falhas fazem EUA doar vacinas

Por meio de nota, o Governo Federal disse ao Plantão Enfoco que o Brasil recebeu com satisfação a notícia a respeito da doação de vacinas contra a Covid-19 por parte do governo dos Estados Unidos da América.

A terra de Joe Biden é uma das que mais vacinam no mundo: mais de 316 milhões de doses da vacina Covid-19 foram administradas nos Estados Unidos, de acordo com dados publicados na sexta-feira (18) pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos.

O site oficial do CDC mostrava 377,935,390 doses totais distribuídas e 316,048,776 doses totais administradas, até às 9h da manhã de sexta, no horário local, número infinitamente maior do que no Brasil.

A administração de Jair Bolsonaro agradeceu o fato de o Brasil estar contemplado entre os países da América do Sul e Central beneficiados com a distribuição de aproximadamente 6 milhões de doses de vacinas, conforme critérios demográficos, por meio do mecanismo da Covax Facility, até final de junho.

"O Brasil congratula-se com os EUA pelo compromisso em fazer do combate à pandemia de Covid-19 um esforço conjunto, com base na solidariedade internacional".

Rostos conhecidos

Paulo Gustavo, ator, humorista, rede social
Ator Paulo Gustavo está entre as vítimas que morreu por complicações da Covid-19 no Brasil. Foto: Rede Social

Entre as vítimas da pandemia no Brasil, inúmeros rostos conhecidos do grande público. O mundo das artes e da política têm sido fortemente impactado com a perda de talentos relevantes, que deixam suas marcas em solo brasileiro. Relembre alguns nomes:

2021

  • Nelson Sargento - 27 de maio (sambista)
  • Paulo Gustavo - 4 de maio (ator e diretor)
  • Ismael Ivo - 8 de abril (bailarino e coreógrafo)
  • Alfredo Bosi - 7 de abril (crítico literário)
  • Agnaldo Timóteo - 3 de abril (cantor e político)
  • João Acaibe - 31 de março (ator)
  • Irmão Lázaro - 19 de março (cantor e político)
  • Major Olimpio - 18 de março (político)
  • Genival Lacerda - 7 de janeiro (cantor)

2020

  • Nicette Bruno - 20 de dezembro (atriz)
  • Paulinho do Roupa Nova - 14 de dezembro (cantor)
  • Eduardo Galvão - 8 de dezembro (ator)
  • Jotinha - 5 de novembro (humorista e influencer)
  • Arolde de Oliveira - 21 de outubro (político)
  • Gésio Amadeu - 5 de agosto (ator)
  • Rodrigo Rodrigues - 28 de julho (apresentador)
  • Antonio Bivar - 5 de julho (escritor e dramaturgo)
  • Fabiana Anastácio - 4 de junho (cantora)
  • Daisy Lúcidi - 7 de maio (atriz)
  • Aldir Blanc - 4 de maio (compositor)

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