Esportes

Quando o ‘Doido’ é o mais sensato, precisamos parar

A temporada de 2021 chegou ao Brasil junto com o pico da segunda onda da Covid-19. Campeonatos estaduais já estão sendo disputados por todo o país na semana em que, em um único dia, quase duas mil pessoas nos deixaram por conta do coronavírus.

Enquanto o país colapsa e agoniza diante da escassez de vacinas, foi realizado o sorteio da Copa do Brasil - o torneio mais democrático em solos brasileiros, reunindo 92 equipes de todas as regiões do país. A primeira fase está marcada já para o dia 10 de março.

O futebol, como parte da cultura e da identidade do brasileiro, deveria servir como referência; atuar em prol do povo e, consequentemente, de seus atletas. No entanto, o silêncio quando à necessidade de nova paralisação é ensurdecedor.

A única pessoa que se manifestou foi o técnico do América-MG, clube em ascensão no cenário da bola, que conquistou recentemente o acesso à elite do Brasileirão. Por ironia do destino, é apelidado de 'Doido'. A fala de Lisca foi forte, importante e, sobretudo, necessária.

Lisca Doido é o mais sensato do futebol brasileiro. Foto: Mourão Panda/AFC

“É quase inacreditável que saiu uma tabela da Copa do Brasil hoje com jogos dia 10, 17, e com 80 clubes que nós vamos levar jogadores com delegação de 30 pessoas pra um lado e pro outro do país. Nosso país parou, gente. Não temos lugar nos hospitais. Eu estou perdendo amigos, amigos treinadores, gente. Não é hora mais, é hora de segurar a vida. ‘Ah, porque aqui no Mineiro é mais perto’, mas vai pegar uma delegação do sul e levar pra Manaus. Como que vocês vão fazer isso? Presidente Caboclo, pelo amor de Deus! Juninho Paulis, Tite, Cléber Xavier, as autoridades. Nós estamos apavorados, pelo amor de Deus”

A declaração, como esperado, não encontrou respaldo nem nos companheiros de profissão. Renato Gaúcho, treinador do Grêmio, refutou a ideia de pronto e foi bajulado pela maioria dos técnicos, jogadores e torcedores.

Imagem ilustrativa da imagem Quando o ‘Doido’ é o mais sensato, precisamos parar

O único a se manifestar de maneira positiva sobre a necessidade de uma pausa no esporte foi o comentarista Walter Casagrande, famoso não só pelo talento com a bola, mas também pela rica historia de vida e posicionamento político.

“É o momento de as pessoas entenderem que estamos num período desesperador: leitos de UTI lotados, 100% de ocupação nos hospitais pelo Brasil... Os números que realmente interessam são esses horríveis sobre a pandemia. Além da vacinação, precisamos de união do povo, empatia e sacrifício”

Em mim, encontrarão apoio. Não há a menor condição de seguir com bola rolando enquanto milhares de pessoas morrem por falta de leito, de vacina e até mesmo de bom senso. O futebol é minha paixão, minha motivação e meu hobby preferido, mas jamais terá valor maior que a vida e a saúde dos que amo.

A Confederação Brasileira de Futebol já sabe o que fazer. E precisará ter coragem para fazer. Enfrentará resistência de clubes, patrocinadores e consumidores para botar em prática o que é certo - pois não pode se escorar em um protocolo que já se mostrou falho por diversas vezes.

Coisas maiores já foram sacrificadas. O futebol, por ser do povo e para o povo, precisa seguir o mesmo caminho. Nunca houve um emprego melhor para a frase "a vida continua". Para a vida continuar, precisamos parar.

A resenha está garantida com o jornalista Pedro Chilingue, que além dos bastidores do mundo esportivo, também traz o melhor dos torneiros regionais.

A resenha está garantida com o jornalista Pedro Chilingue, que além dos bastidores do mundo esportivo, também traz o melhor dos torneiros regionais.

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