Política

A vez delas em Maricá

Mulheres representam 33,4% de candidaturas ao cargo na cidade de Maricá. Foto: Karina Cruz

O número de candidatas mulheres para as eleições municipais deste ano em Maricá cresceu quase 11% - passando de 91, em 2016, para 101 em 2020, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Apesar do crescimento no número de candidatas, atualmente o legislativo municipal não possui nenhuma mulher como vereadora.

Desde 2004, o parlamento da cidade é exclusivamente masculino: ao todo a cidade possui 295 candidatos ao cargo pelas eleições 2020. Os homens representam 66,6% desse total. Nestas eleições, as mulheres representam 33,4% de candidatas ao cargo.

Fonte: Tribunal Superior Eleitoral (TSE)

A cientista política Carolina de Paula, doutora em Ciência Política pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP/UERJ), acredita que a nova regra de repassar 30% da verba para postulantes femininas tenha colaborado para o aumento no número de candidatas nas eleições municipais.

“Vimos que nas últimas eleições começaram a aumentar o número de candidatas mulheres. Temos a lei de cotas desde 1995, o problema não é só a oferta de vagas, mas notamos que as candidatas não tinham prioridade pelos partidos de incentivo financeiro, elas sempre recebiam menos recursos”

Elas por elas

Primeira mulher transsexual na disputa por uma vaga no pleito municipal, Lorreta Yang, que vem pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT), traz as bandeiras da representatividade.

“Sou a primeira mulher trans a tentar uma vaga na Câmara Municipal de Maricá. As mulheres são maioria no eleitorado municipal e não possuímos uma mulher representante na casa de leis, temos um sistema machista e isso precisa mudar”

Lorreta Yang

Candidata pela primeira vez, pelo Partido da Mobilização Nacional (PMN), a comerciante Sonia Neiva, de linha conservadora, aposta nos valores familiares e defesa da vida.

“Sou muito conservadora, luto pelo lar e pela família. Quero ocupar um espaço na Câmara, assim como nós ocupamos na nossa família e no nosso lar. Temos que mostrar que a mulher tem capacidade de legislar pela cidade”

Sonia Neiva

A candidata indígena Suzana Para’í entrou na briga pela vaga no legislativo municipal pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT) e acredita que as mulheres já possuem responsabilidade e precisam de mais espaço na sociedade.

“As mulheres, em toda a sua história, tiveram a responsabilidade imposta pelos poderosos de cuidar; esta era a nossa condição: cuidar! Diante disso, precisamos estarmos em peso nos espaços de poder desta sociedade para construirmos políticas que garantam o cuidar da vida, da educação e saúde com mais qualidade”

Suzana Para'í

Concorrendo a uma vaga pelo Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), Ana Paula Mariano reforça o crescimento do público feminino na política, mas também a representatividade enquanto mulher negra.

"A meu ver precisamos ter a presença da mulher nos cenários de poder. Entretanto, na qualidade de mulher negra que sou, acho 'louvável' poder presenciar o aumento da participação de mulheres negras, capacitadas e legítimas representantes assumindo cargos elitizados. Como professora, vivo no ‘olho do furacão’, e as questões de preconceito, quero lutar contra elas”

Ana Paula Mariano

Apesar dos partidos reservarem, no mínimo, 30% das vagas para eleições proporcionais, o número ainda não reflete a realidade nas urnas, de acordo com a cientista política Carolina de Paula.

“Ainda não ocupamos as vagas esperadas, ainda passamos vergonha no número de mulheres na política, seja ela federal, estadual e municipal. Temos mulheres como candidatas, mas não adianta termos mulheres só para preenchermos a cota, é preciso refletir nas urnas. As mulheres são a maioria do eleitorado e as candidatas mulheres, além de legislarem pela população, também lutam por políticas públicas voltadas para as mulheres”, explica.

Outro fator é o diretório dos partidos serem majoritariamente masculinos, o que pode influenciar também nas candidaturas femininas.

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