Depressão

Alerta para a saúde mental dos homens brasileiros

Tendência de suicídio chega a 12,6% por cada 100 mil

Isolamento social e discursos pessimistas podem ser indícios de um quadro depressivo
Isolamento social e discursos pessimistas podem ser indícios de um quadro depressivo |  Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
 

A tendência de suicídios gerados após um longo período de depressão é maior entre os homens no Brasil: 12,6% por cada 100 mil — em comparação aos 5,4% por cada 100 mil mulheres. Os dados são da Organização Mundial de Saúde, divulgados a partir deste mês de setembro, marcado pela campanha de prevenção ao suicídio e depressão.

Conforme a OMS, no mundo, todos os anos, mais pessoas morrem como resultado de suicídio do que HIV, malária ou câncer de mama, ou até mesmo guerras e homicídios.  

A psicóloga Rafaela Fernandes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) revela ao ENFOCO que as pressões familiares, bem como a disputa velada com a mulher no mercado de trabalho, além do próprio machismo estrutural, estão entre os fatores que mais contribuem para o cenário.

"Eu percebo que os homens por conta do machismo estrutural acabam sendo muito pressionados a dar conta de bancar uma família. Ainda tem uma certa disputa com a mulher no mercado de trabalho, ainda que seja velada. Eu sei que muitas mulheres aí ocupam altos cargos, mas os homens - por conta dessa estrutura muito arcaica - da nossa sociedade patriarcal, eles se cobram". 

Segundo a especialista em saúde mental, além da autocobrança excessiva, há ainda o adoecimento ligado ao preconceito.  

"'Ah, é falta de falta de Deus!'; 'É frescura!'; 'É falta de coisa pra fazer!'. E não é. A depressão é uma doença. O homem que é mais delicado no sentido de se conectar com o sentimento, ele é muito julgado. Então, essa questão da repressão do 'homem não chora', faz com que muitos ainda neguem seus sentimentos", enfatiza.

Como identificar?

Tentar identificar o perfil de quem atravessa a doença é fundamental para garantir o tratamento
Tentar identificar o perfil de quem atravessa a doença é fundamental para garantir o tratamento |  Foto: Arquivo / Pedro Conforte
 

É muito comum, segundo a psicóloga, um perfil de isolamento social entre aqueles que atravessam o quadro depressivo. Geralmente, essas pessoas também costumam apresentar um discurso pessimista em relação ao mundo.

"Eventos sociais elas acabam evitando; a interação delas é muito pouca; não conversam muito, ficam ali fechadas no seu mundo. Seria um isolamento social, uma certa apatia, um desânimo, uma tristeza muito grande. Então você percebe muito no discurso pessimista, um discurso muito pra baixo, sabe? Muito amargurado", esclarece.

Acompanhamento

Buscar por especialistas em saúde mental é fundamental nesses casos.

"É importante para que o médico possa fazer esse diagnóstico. O psicólogo também faz. Mas o psiquiatra é um médico e consegue entrar com medicação. Entendendo que a medicação sozinha não se sustenta. É importante o auxílio terapêutico, para que a pessoa possa entender que é uma doença, que tem tratamento", explica a especialista.

38 mortes por dia

Dados da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) revelam números alarmantes no Brasil. Os registros de casos de suicídio se aproximam de 14 mil por ano, ou seja, em média 38 pessoas por dia tiram a própria vida. 

"Precisamos orientar para conscientizar, prevenir e no mês de setembro concentramos os nossos esforços e vamos para a prevenção efetiva do suicídio. A morte por suicídio é uma emergência médica e pode ser evitada através do tratamento adequado do transtorno mental de base", afirma o presidente da ABP, Dr. Antônio Geraldo da Silva.

As características marcantes de um paciente depressivo são fundamentais para que pessoas do convívio possam conversar com quem sofre desse quadro traumático.

"É importante conversar para tentar tirar alguma coisa dessa pessoa. Eu tenho, às vezes, alguns amigos que eu acabo percebendo. E eu falo: Olha, será que você não está entrando num quadro depressivo? Você acha que é comum esse tipo de pensamento? Porque, às vezes, vem associado a um pensamento de desvalor com pensamentos suicidas. É importante perceber o discurso e o comportamento", alerta a psicóloga Rafaela Fernandes.

A melhor maneira de ajudar é também trazer à luz a questão da depressão enquanto doença. E que tem solução, desde que haja um acompanhamento médico adequado.

"É mais fácil melhorar desde que você procure ajuda. O que eu vejo muito é que a pessoa acha que só ela tem esse quadro e acaba se autoexcluindo. Então quando você apresenta que faz parte da nossa sociedade atual, que você não está sozinho, que tem grupos de apoio, isso acaba normalizando um pouco mais a questão e diminuindo essa sensação de 'eu sou esquisito', 'eu sou maluco'", finaliza a psicóloga.

Ajuda imediata

O Centro de Valorização da Vida (CVV) atua há mais de 60 anos levando apoio emocional a quem precisa conversar. Para isso, é só ligar para o número 188 ou acessar o site cvv.org.br.

Por conta da pandemia de Covid-19, os atendimentos presenciais estão sendo evitados, como por exemplo em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio.

Segundo o CVV, independente do que o paciente depressivo esteja passando ou sentindo, ou da hora do dia, voluntários estão sempre disponíveis e dispostos a conversar de forma sigilosa e sem julgamento.

Planos de saúde

Fim do número de consultas com psicólogos já foi aprovado pela ANS
Fim do número de consultas com psicólogos já foi aprovado pela ANS |  Foto: Arte / Divulgação
 

Em julho, o fim da limitação do número de consultas e sessões com psicólogos foi aprovada pela Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

A medida vale para os usuários de planos de saúde com qualquer doença ou condição de saúde listada pela Organização Mundial de Saúde, como, por exemplo, paralisia cerebral, síndrome de Down e esquizofrenia.

Em nota, a ANS disse que a decisão foi tomada com o objetivo de promover a igualdade de direitos aos usuários da saúde suplementar e padronizar o formato dos procedimentos atualmente assegurados, relativos a essas categorias profissionais.

Dessa forma, então, foram excluídas as Diretrizes de Utilização (condições exigidas para determinadas coberturas) para as consultas e sessões com psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e fisioterapeutas, e o atendimento passou a considerar a prescrição do médico assistente.

Essa foi a 9ª atualização do Rol de Procedimentos apenas em 2022:  até o dia 11 de julho foram 24 inclusões de procedimentos entre exames, tratamentos e medicamentos, além de outras atualizações.

A nova resolução normativa passou a valer a partir de 1º de agosto para todos os planos regulamentados que tenham cobertura ambulatorial (consultas e exames). Os contratos em período de carência para consultas/sessões precisam aguardar o término da carência para ter direito à assistência.

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