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Covid-19: estudo revela que contaminação pode ser 16 vezes maior no país

O estudo aponta para a existência de um largo espectro de subnotificações. Foto: Arquivo/Pedro Conforte

Levantamentos e projeções realizados por cientistas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e de várias instituições brasileiras indicam que o número de pessoas infectadas pelo novo coronavírus no país pode ser 16 vezes maior que o registro oficial. O estudo aponta para a existência de um largo espectro de subnotificações.

De acordo com o site Covid-19 Brasil, a estimativa é que haja mais de 2,7 milhão de casos de infecção em todo o território nacional, sendo 288 mil só no Rio de Janeiro, enquanto o Ministério da Saúde contabilizava 203.165 casos confirmados da doença no país - cerca de 19 mil no estado fluminense (dados referentes a 14 de maio).

Para o pesquisador Fernando Sanches, do Departamento de Segurança e Saúde do Trabalhador (Dessaude) da Uerj, que vem atuando nas ações de monitoramento da Covid-19 nas unidades de saúde da universidade, a incerteza sobre o total de pessoas infectadas, bem como a taxa de mortalidade pela doença, se devem à baixa testagem da população. Porém, há outras variáveis capazes de promover diferentes cenários e que precisam ser consideradas.

"Temos outros fatores, como a presença de vulnerabilidades, condições socioeconômicas, acesso aos serviços de saúde, nível de educação da população, o entendimento sobre as medidas e estratégias de mitigação, supressão de novos casos ou de agravamento', afirma.

Com relação ao Rio de Janeiro, os dados atuais revelam 19.467 casos confirmados por Covid-19 no estado, sendo 11.264 dentro da capital. Segundo Sanches, a projeção para os próximos dez dias é que esse total chegue a 55 mil. Da mesma forma, os óbitos que hoje contam 2,2 mil podem atingir o patamar de 7,2 mil, em 21 de maio.

"Principalmente se não houver capacidade de resposta aos casos de severidade e que necessitem de leitos de CTI", adverte o pesquisador.

Com isso, a proposta de implantação do lockdown, interrompendo os deslocamentos da população de forma drástica, pode representar uma importante estratégia para conter a propagação da doença.

"É uma corrida contra o tempo, com sobreposições de diferentes dimensões analíticas para um problema cuja complexidade se perpetua, em um dilema diário do processo saúde-doença, viver-morrer, produção, economia, sustentabilidade", pondera Sanches.

Para ele, a ciência exerce o papel preponderante de informar e orientar sobre as melhores medidas a serem adotadas. Entre elas, a fabricação da vacina contra o Sars-CoV-2 (novo coronavírus), possibilitando a imunização em massa.

"Não podemos ficar indiferentes e assistir pessoas morrerem, sem que haja orientação adequada e as ferramentas necessárias para o auxílio no processo de tomada de decisão baseada em evidências", conclui.

Questionário

Para auxiliar nas ações preventivas ao novo coronavírus, a Comissão RJ Ciência no Combate à COVID-19 (ComRJCOVID) busca fazer um mapeamento dos possíveis casos subnotificados da doença, implementando um questionário digital.

O grupo, coordenado pela Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti) juntamente com Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro (Faperj), conta ainda com a Uerj, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

De acordo com Maria Isabel de Castro Souza, subsecretária de Ensino Superior, Pesquisa e Inovação e professora da Uerj, trata-se de uma ferramenta importante que contribuirá para a geração de dados geoposicionados da população fluminense, permitindo o cruzamento de informações entre o percentual de casos notificados e subnotificados da Covid-19.

"O questionário visa demonstrar o que não está aparecendo nos registros oficiais. Vários trabalhos realizados até o momento indicam que existe um percentual da população que não está sendo testado, pessoas expostas de várias formas à doença e que se apresentam assintomáticas, muitas das vezes em ambientes contaminados", afirma.

Conforme a professora, o objetivo do estudo é mostrar a importância da ciência na elaboração de estratégias para o combate efetivo ao novo coronavírus.

"Depois da análise dos dados, poderemos apresentar ações efetivas de divulgação nas redes públicas, propor a criação de novos espaços para leitos e reforçar a necessidade de isolamento nas comunidades, convocando os agentes comunitários para garantir que as pessoas permaneçam em casa", declara.

Segundo Maria Isabel Souza, a expectativa é que tanto a população quanto outras instituições possam se engajar para o preenchimento do formulário, disponível no site. Para que a pesquisa seja fidedigna, os participantes deverão incluir seus dados pessoais, que serão mantidos em sigilo absoluto.

"Seguimos o protocolo balizado no Comitê de Ética da Uerj, os participantes podem ficar tranquilos, nenhuma informação pode ser divulgada", conclui.

Publicada às 16h35

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