Gente que faz

Coletivo atua ajudando ex-catadores de Itaoca, em São Gonçalo

Galera movimenta doações e realiza aulas funcionais

A frase 'Gentileza gera gentileza' deu o nome para o projeto
A frase 'Gentileza gera gentileza' deu o nome para o projeto |  Foto: Karina Cruz
 

Motivada por desejos de uma sociedade mais justa e gentil, a moradora de São Gonçalo Thamiris Santos, de 31 anos, criou o coletivo 'Por Gentileza', que atua ajudando ex-catadores do antigo lixão desativado no município, em Itaoca. No local, o coletivo movimenta doações e realiza aulas funcionais para os moradores.

A história do projeto começa em 2014, quando a assessora parlamentar entrou em um pré-vestibular que iniciou um braço de responsabilidade social em conjunto com um projeto que realizava ações no local. Foi um primeiro encontro que Thamiris não conseguiria mais esquecer.

"Eu comecei a frequentar aqui com esse projeto, só que ele vem aqui 3 vezes por ano: na Páscoa, no Dia das Crianças e no Natal. Depois de um ano, eu e umas amigas sentimos necessidade de vir mais, fazer mais atividades, mais arrecadações, a gente começou a se apegar as famílias", conta.

Em janeiro de 2016, o projeto começou a ganhar contornos. Com ajuda de mais três amigas, Thamiris começou a arrecadar doações e recrutar voluntários, já que para conseguir atender as demandas do local é preciso uma grande mão de obra. Já na primeira ação, a equipe conseguiu atender 200 famílias. 

Coletivo organiza aulas funcionais gratuitas para os moradores
Coletivo organiza aulas funcionais gratuitas para os moradores |  Foto: Karina Cruz
 

Mesmo tentando expandir os horizontes e nutrir outras demandas, como ajudar pessoas em situação de rua, atender lar de idosos e abrigo de menores, o apego a Itaoca e as famílias de lá acabavam se sobressaltando mais entre as atividades do Por Gentileza.

"Acabava que sempre sentia que aqui era o lugar que exigia muita, muita demanda, as pessoas precisam de tudo. Então a gente começou a dedicar um tempo maior para cá. E, a partir de 2018, tudo que eu consegui, eu trouxe para cá", relembra a assessora. 

Visibilidade 

Para Thamiris, a história de abandono em Itaoca, bairro da Zona Oeste de São Gonçalo, começa em 2012, quando o lixão, que era fonte de sustento para as famílias que vivem lá, foi desativado. 

"Quando foi desativado prometeram muitas coisas para as famílias que estavam aqui, para os ex-catadores. Ficaram cerca de 600 famílias sem fonte de renda e, hoje, muita gente já não mora mais aqui, muita gente já morreu, mas pouca gente conseguiu sair daqui", relata. 

As proporções de abandono ganham consequências ainda maiores quando se trata do acesso a saneamento básico, segundo a assessora. Esse fator é um dos motivos pelo qual o projeto e as equipes do coletivo lutam frequentemente para trazer visibilidade ao local. 

"Hoje a coisa que mais me incomoda aqui é a água, toda a comunidade só vive com uma mangueira d'água. Todo mundo tem que ir lá, encher o baldinho e voltar para casa. Acabou a água no balde, tem que voltar. Tem gente que enche galão, tem gente que enche garrafa d'água", evidencia a situação.

Por Gentileza
Por Gentileza |  Foto: Karina Cruz
  

A mulher relatou que isso acontece nos dias positivos, porque em outros, a ausência de água é uma realidade dura que a população da localidade precisa lidar. 

Isso é o que eu mais estou tentando correr atrás para trazer para cá, é água, de maneira regular Thamiris Santos, criadora do projeto
  

Futuro

Quando questionada sobre o que deseja para Itaoca e as famílias nos próximos anos, Thamiris foi incisiva ao dizer "que o projeto não precise mais existir". 

"Isso que eu queria, que não precisasse ter esse projeto aqui. Eu já venho aqui há 8 anos e as mudanças estruturais que eu vi acontecer aqui fui em quem trouxe. Eu tento ser muito positiva, mas é muito difícil, para ser sincera. Mas a gente tenta", disse a criadora do projeto.

De acordo com a assessora, já fazem 10 anos que as famílias vivem nas sombras por lá, e com "direitos todos negados", fato que já vinha acontecendo mas ficou ainda mais precário após o lixão ser desativado. Segundo Thamiris, a mínima fonte de renda que antes os ex-catadores tinham, agora não existe mais.

Como ajudar

Por Gentileza
Por Gentileza |  Foto: Karina Cruz
  

Durante a conversa com o ENFOCO, Thamiris relatou que as doações caíram muito no período de pandemia. As entregas das cestas em Itaoca, que eram mensais, passaram a ser entregues de dois em dois meses.

Quem quiser ajudar é só entra em contato pelo Instagram do projeto ou pelo número 21 96988-7187. No perfil da rede social também tem o link que possibilita a entrada nos grupos dos voluntários, onde são passadas todas as informações sobre as ações do grupo.

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