Uma família de São Gonçalo viveu momentos de terror neste fim de semana, após enterrar uma desconhecida no lugar de um parente idoso, que morreu por complicações da Covid-19. Os familiares acusam o Hospital Icaraí, em Niterói, de trocar os corpos. A unidade de saúde já foi acusada de negligência médica outras vezes.
De acordo com os familiares, eles só descobriram que enterraram a pessoa errada quando o hospital entrou em contato dizendo que o corpo ainda encontrava-se na unidade, mesmo sendo reconhecido pela família e liberado.
O comerciante Ulisses Gonçalves Ribeiro, de 68 anos, morreu neste sábado (26), e estava internado há mais de dez dias no hospital. Segundo a filha, Daiane Lessa, de 34 anos, uma idosa de 85 anos foi enterrada no lugar do pai.
Ulisses teve os primeiros sintomas da Covid-19 no dia 11 de novembro. Ele foi ao hospital, foi medicado e encaminhado para casa. Quatro dias depois, ele foi internado com o pulmão comprometido e precisou passar por um cateterismo, pois estava com as artérias entupidas.
"Ele realizou a cirurgia e no dia 6 de dezembro recebeu alta, mas cinco dias depois ele começou a ter febre e retornamos para o hospital, que afirmou que ele estava, novamente, com o pulmão comprometido. No dia 15 ele começou a ter muita falta de ar e foi encaminhado para o CTI [Centro de Terapia Intensivo], daí em diante ele só piorou, e veio a falecer", conta Daiane.
A família recebeu a notícia do falecimento no sábado (26), e o esposo de Daiane fez o reconhecimento do corpo. O enterro foi realizado às 16h30 deste domingo (27), no cemitério Parque da Paz, no Pacheco, mas, uma hora após o enterro, a família descobriu a troca dos corpos.
"Meu esposo reconheceu o corpo, era meu pai. Tinham três corpos na sala e o do meio era meu pai. Realizamos o enterro e logo depois o hospital me ligou e disse que o corpo do meu pai estava lá ainda. Eles culparam meu marido, a funerária, mas ninguém resolveu o meu problema. Vamos ter que exumar o corpo da idosa para conseguir enterrar meu pai, mas no hospital ninguém resolveu nada", diz.
A família afirmou que procurou a Delegacia do Centro (76ª DP) e que foi orientada no que deveria fazer, mas o caso ainda não foi registrado.
Resposta
O Hospital Icaraí (HI) esclarece que a liberação de corpos desta unidade hospitalar segue criteriosamente o seguinte protocolo: documento de liberação e reconhecimento preenchido pelo maqueiro que realiza o reconhecimento do corpo junto com o familiar. O saco mortuário é etiquetado com nome, data de nascimento, hora e data do óbito. Após o reconhecimento, a funerária faz a retirada. No caso de pacientes com Covid-19 o protocolo é seguido conforme determinação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), sendo o corpo lacrado, para que minimize o foco de contaminação.
Quanto ao caso exposto, esclarecemos que um paciente que veio a óbito em 27 de dezembro de 2020, tendo como causa mortis acidente vascular encefálico isquêmico, consequência de uma pneumonia viral SARS-COV2, estava devidamente identificado, aguardando familiares para reconhecimento, foi retirado pela funerária, que fora contratada para retirada de corpo de outro paciente também falecido no Hospital Icaraí , no dia 26 de dezembro, com causa mortis de choque séptico, por complicações por Covid-19, cujo reconhecimento já havia sido realizado por seu familiar, ocasionando o sepultamento indevido. Ressaltamos que ambos os corpos estavam identificados, seguindo todos os protocolos do Hospital Icaraí.
O Hospital Icaraí lamenta o ocorrido e informa que está prestando todo apoio aos familiares para que os trâmites judicias possam ser rapidamente resolvidos.