Segurança

'Praça dormitório' gera debate entre vizinhança em Niterói

Tema volta à tona após morador de rua atear fogo em carro

Roupas ficam espalhadas em bancos da praça Getúlio Vargas
Roupas ficam espalhadas em bancos da praça Getúlio Vargas |  Foto: Lucas Alvarenga

Ocupada por pessoas em situação de rua, a praça Getúlio Vargas, no bairro Icaraí, tem ações frequentes de assistentes sociais da cidade de Niterói, na Região Metropolitana do Rio. Os desafios, no entanto, são grandes.

Nesta quinta-feira (25), um homem de 41 anos — que viveria em uma espécie de cabana no local, teria se revoltado ao ter a barraca removida.

Ele, então, ateou fogo em um carro na Rua Miguel de Frias. As chamas se alastraram para outros veículos, causando prejuízos. O incêndio foi controlado por bombeiros.

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Segundo comerciantes no entorno do local, apesar das ações frequentes da gestão pública, o local volta sempre a ser ocupado por pessoas em situação de vulnerabilidade.

A Prefeitura de Niterói, questionada sobre o fato, disse que as ações de acolhimento às pessoas em situação de rua acontecem diariamente em diversos pontos da cidade. E que, inclusive, as equipes estiveram nesta quinta (25) na Praça Getúlio Vargas.

O roteiro também incluiu a Praça Escritor Adélio Magalhães, Praia das Flechas, Rua Doutor Paulo Alves, Rua Gavião Peixoto, Avenida Jornalista Alberto Francisco Torres e Avenida Roberto Silveira.

“Eu vejo eles [agentes da prefeitura] abordando, e na maioria das vezes as pessoas são hostis, elas não gostam. Algumas eles até conseguem levar [para o abrigo], mas depois acabam voltando. Esse vem e vai eterno”, contou um comerciante que preferiu não se identificar.

Pessoas em situação de rua utilizam praça Getúlio Vargas para viver
Pessoas em situação de rua utilizam praça Getúlio Vargas para viver |  Foto: Lucas Alvarenga

Ainda conforme relatos, as pessoas acabam passando temerosas pelo local, principalmente após o episódio desta quinta.

“Se tacam fogo em carro quando estão bravos, existem chances de fazerem o mesmo com a gente? Quais são as chances de não sermos agredidos ou algo do tipo ao passar por aqui? Acaba ficando uma sensação de medo”, desabafa a moradora Claudia Soares, de 45 anos.

O que diz a Assistência Social

A Secretaria Municipal de Assistência Social e Economia Solidária (Smases) conta que trabalha na sensibilização e convencimento da população em situação de vulnerabilidade social, já que a legislação brasileira não permite o acolhimento compulsório.

Em nota, a prefeitura reforça que as ações de acolhimento às pessoas em situação de rua em Niterói, acontecem diariamente em diversos pontos da cidade. Os trabalhos são feitos por diferentes pastas e tem o apoio operacional da NitTrans.

Nesta sexta (26), as equipes atuam na Alameda São Boaventura, Bairro Chic, Ponto Cem Réis, nos acessos à Ponte Rio-Niterói, Praça Dr. Vitorino e na Ponta d' Areia, além da Rua Dr. Fróes da Cruz, Avenida Rio Branco e Rua Marechal Deodoro. A Praça Getúlio Vargas também esteve no roteiro das equipes na última sexta-feira (19).

"As ações são sempre divulgadas anteriormente no site da Prefeitura no link 'Calendário de Ações de Zeladoria Urbana', como determina a norma. Durante as ações, as equipes recolheram os utensílios deixados nas calçadas, que foram embalados separadamente, identificados e levados para um depósito público. As pessoas em situação de rua podem solicitar a devolução na Smases", diz o governo municipal.

De acordo com a prefeitura, desde 2019, o número de vagas ofertadas nas unidades de acolhimento aumentou mais de 300%. A equipe de abordagem também foi ampliada. Há 350 vagas em abrigos na cidade.

Durante as atividades de acolhimento, as equipes de abordagem social oferecem atendimento médico, abrigo e encaminhamento para cursos e outras oportunidades de apoio social.

Carros incendiados

Depois que colocou fogo no carro, que resultou ainda no incêndio de outros dois veículos próximos, o suspeito foi localizado por guardas municipais na Rua Gavião Peixoto esquina com Domingues de Sá, também em Icaraí.

A identificação só foi possível devido a uma testemunha que flagrou o acontecimento. E após ser encontrado, o homem teria confessado o crime.

Logo em seguida, o suspeito foi encaminhado para a 77ª DP (Icaraí). De acordo com a Polícia Civil, ele foi autuado em flagrante pelo crime de incêndio.

Relatório

No começo de abril, a Prefeitura de Niterói divulgou um relatório elaborado pela Secretaria Municipal de Saúde e pela Secretaria Municipal de Assistência Social e Economia Solidária, informando que a cidade teve um aumento de 27,6% de pessoas em situação de rua nos últimos dois anos.

“Estão se abrigando aqui. Eles trazem colchão, lençol para se cobrir, dormem nos bancos. É uma realidade muito triste, cruel, mas na maioria das vezes parece que eles não querem sair disso”, observa a aposentada Maria de Lourdes, de 76 anos, que costuma todos os dias sentar em um banco da praça.

Oportunidades

Um dos pontos da pesquisa levantada pela prefeitura mostra que o desemprego é o maior responsável pela permanência na rua (44%). Problemas familiares são o motivo de 41,8% das pessoas. Alcoolismo e drogas aparecem com 17%.

Ao mesmo tempo que revelou os números, a prefeitura revelou que está atenta à incidência de pessoas em situação de rua na cidade e vem ampliando as ações de acolhimento.

Trabalho efetivo

Segundo o governo municipal, desde outubro de 2023, diversos setores da administração pública atuam diariamente nas ruas da cidade em ações de zeladoria e, nos últimos 15 dias, foram realizadas mais de 100 abordagens.

Além disso, para contribuir com a reinserção no mercado de trabalho e ajudar as pessoas a dar a volta por cima, a Assistência Social também está promovendo cursos de barbeiro entre os acolhidos, de acordo com a prefeitura de Niterói. 

Ao todo, 740 pessoas inscritas no CadÚnico em Niterói não possuem moradia fixa. Em setembro de 2021 eram 580 nessa situação.

Segundo a publicação do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), o crescimento de pessoas em situação de rua na cidade pode estar relacionado ao impacto da pandemia de Covid-19, quando foi apontado um aumento de 38% em todo Brasil, entre 2019 e 2022.

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