Tristeza

Adolescente fazia compras de Natal quando foi morta na Baixada

Estudante Milene Izabely tinha 14 anos

Menina foi atingida com tiro no peito; ela foi socorrida ao hospital, mas não resistiu
Menina foi atingida com tiro no peito; ela foi socorrida ao hospital, mas não resistiu |  Foto: Reprodução/Redes sociais

A adolescente Milene Izabely Christovam dos Santos, de 14 anos, que foi morta com um tiro no coração, no último sábado (2), estava comprando roupas para comemorar o Natal, quando foi atingida pelo disparo fatal. A informação é de Nilza da Conceição, de 68 anos, tia-avó da vítima.

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A família se reúne no Cemitério Municipal de Belford Roxo, na manhã desta segunda-feira (4), para o velório da estudante, que começou às 9h30. O sepultamento do corpo de Milene acontece às 11h.

Nilza da Conceição, de 68 anos, tia-avó da vítima, clamou por Justiça
Nilza da Conceição, de 68 anos, tia-avó da vítima, clamou por Justiça |  Foto: Lucas Alvarenga

Ao ENFOCO, Nilza revela ter visto toda a cena no bairro Nova Aurora, também em Belford Roxo. Ela diz que a sobrinha tem duas irmãs gêmeas, de 7 anos, e que o sonho dela era se formar em Direito, visando dar conforto para a mãe, que cuida das filhas sozinha.

“Gritaram falando que era a minha sobrinha e eu falando que não era. Quando eu vi que era ela, bateu o desespero, minha filha me deu remédio, não enxergava mais nada, fiquei com o coração disparado. A mãe dela é mãe solteira, trabalha numa firma para sustentar as três filhas: ela e as irmãs gêmeas de 7 anos. O sonho dela era tirar a mãe dessa situação, queria cursar Direito. Estamos todos dilacerados!", narrou.

Ela continuou dizendo sobre a parceria entre Milene e a mãe. E também clamou por Justiça.

Ela era o braço direito da mãe, ia levantar a mãe, ajudar a família. Queremos justiça, ela não merecia isso. Era uma jovem cheia de sonhos. Crianças que andam na rua, tenham cuidado, olhem para os lados. A Milene estava na lojinha com uma tia, comprando roupas para o Natal e a roupa dela está aqui Nilza da Conceição, tia-avó

Pedido de socorro

Michele Cristovam, mãe de Milene, foi amparada por familiares
Michele Cristovam, mãe de Milene, foi amparada por familiares |  Foto: Lucas Alvarenga

Michele Christovam, de 30 anos, mãe de Milene, chegou ao cemitério amparada por familiares. Ela gritou “miserável” ao ver o corpo da filha, se referindo ao policial que ela afirma ter atirado contra a criança.

“Eu quero as câmeras nos uniformes desses policiais. Quem anda de fuzil é polícia, quem atirou nela foi polícia. Ela não teve oportunidade de viver, ainda jogou minha vida que nem um cachorro, ele não socorreu ela. Eu quero justiça, quero que eles paguem pelo que fizeram com a Milene. Senhor governador, estou pedindo socorro, não deixa eu ser mais uma mãe que perde um filho sem resposta, por favor, tenha piedade de mim, faz esse homem pagar pelo que fez com a minha filha. Enquanto eu não tiver isso, não terei paz. Estou aqui dopada, não sei como vou ver minha filha no caixão”, afirmou ela aos prantos.

Ao ver o corpo da filha, Michele afirmou que ela era uma ótima criança. No local, uma equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) deu suporte para a mãe da menina. Crianças amigas da vítima também estiveram na despedida dela.

Cláudia da Conceição, de 35 anos, prima de Milene, contou que a menina era alegre
Cláudia da Conceição, de 35 anos, prima de Milene, contou que a menina era alegre |  Foto: Lucas Alvarenga

Cláudia da Conceição, de 35 anos, prima de Milene, contou que a menina foi atingida durante um confronto.

“O ocorrido foi sábado, por volta das 13h. Eu não moro lá perto, mas fui porque fiquei arrasada. Teve um confronto e um policial atirou para pegar um miliciano, mas acertou nela. Ela era uma menina alegre! O que fica agora é a dor da família”, afirmou a cabeleireira.

O que diz a polícia

Em nota, a Polícia Militar informou que, neste sábado (2), policiais militares do 39º BPM (Belford Roxo), foram acionados para uma ocorrência no bairro Nova Aurora, em Belford Roxo, Baixada Fluminense.

De acordo com o comando da unidade, um homem de 25 anos já em óbito foi encontrado, próximo ao Morro do Avião, comunidade vizinha ao bairro da ocorrência. E que uma jovem ferida por disparos de arma de fogo, foi socorrida e levada para o Hospital Municipal de Belford Roxo, mas não resistiu.

"Os agentes tomaram conhecimento de um confronto armado entre criminosos, um homem foi preso e uma arma apreendida. Durante a ação, houve um breve confronto entre os criminosos e a Polícia Militar. Vale destacar que, o policiamento na região está reforçado”, disse.

Apuração

A corporação ainda afirmou que “um procedimento apuratório foi instaurado pela Corregedoria da Polícia Militar para averiguar a conjuntura da ação policial".

Os agentes envolvidos neste caso foram ouvidos e as armas apreendidas para serem periciadas. O caso foi apresentado na 54ª DP (Belford Roxo).” 

A Polícia Civil informou que a Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF) foi acionada e instaurou inquérito para apurar as circunstâncias da morte de Milene Isabely Christovam dos Santos, de 14 anos.

Em um local próximo, houve também a morte de um homem, ainda não identificado. "Diligências estão em andamento para esclarecer o caso", pontuou.

Tristes números

Segundo a ONG Rio de Paz, Milene Izabely é o 13º caso de crianças e adolescentes, de 0 a 14 anos, mortos por armas de fogo, a maioria por bala perdida, registrados no Estado do Rio este ano.

"O número já é maior que o de 2020, quando contabilizamos o maior número de vítimas: 12. E esse ano ainda não terminou. E seguimos fazendo essa conta, infelizmente. E seguimos perguntando: até quando? E seguimos sem respostas. E seguimos com essa política de segurança pública de confronto, cujas balas sempre acham os corpos pretos e pobres das favelas, em sua grande maioria", publicou.

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