Polícia

'Alunos vão para aula sem saber se vão voltar', desabafa professor de SG

Para professor do CIEP 122, danos da violência do entorno sobre o processo escolar são gravíssimos. Foto: Ciep 122/Reprodução

A escalada da violência no Jardim Miriambi, em São Gonçalo, colocou o Ciep 122 - Ermezinda Dionízio Necco, no fogo cruzado. Após confrontos entre grupos criminosos na madrugada desta segunda-feira (10), as aulas ficaram comprometidas por conta do medo entre alunos e funcionários, apesar a direção não ter suspenso as atividades oficialmente.

Segundo a Polícia Civil, o Jardim Miriambi está conflagrado desde que o Terceiro Comando Puro (TCP) aportou na região. A ‘tropa’ seria liderada pelo traficante Thomas Jhayson Vieira Gomes, o '3N'. O grupo passou a disputar o domínio da área com o Comando Vermelho (CV).

Ao longo do último mês, a rotina da unidade foi interrompida por conta dos confrontos no entorno em ao menos três datas.

Em 20 de maio, a Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) da Polícia Civil realizou uma operação na tentativa de capturar 3N, com apoio de blindados e helicóptero. Diante dos rasantes do helicóptero e troca de tiros constantes próximos do colégio, os estudantes se refugiaram nos corredores da escola.

Polícia Militar já vem realizando operações na comunidade. Foto via Grupo Plantão Enfoco

Três dias depois, uma troca de tiros por volta das 15h, em horário escolar, levou o 7º Batalhão a realizar uma incursão na comunidade com o blindado, e mais uma vezes houve temor no colégio.

Com confrontos das 3h às 5h nesta segunda-feira (10), no horário de saída para o trabalho, muitos pais ficaram em dúvida sobre a manutenção das aulas.

Segurança

Para o professor, que preferiu não se identificar, a decisão da unidade em manter as aulas pode colocar os estudantes em risco.

“A vida de vocês não vale uma prova, um teste ou uma simples aula”, orientou o professor aos estudantes do Ciep, informando que não compareceria ao estabelecimento nesta segunda.

“Estudantes vão para a escola sem saber que horas voltam, e se voltam”.

Para o docente, o problema inicia ainda no caminho para a aula, onde os estudantes se deparam com pontos de revista e são achacados por criminosos.

“Jamais me perdoaria se um aluno perdesse a vida no deslocamento para a escola”, afirma o professor.

Para o Maria de Aparecida, diretora do Sindicato dos Profissionais de Educação (Sepe-SG), os professores são orientados a manter os estudantes no estabelecimento até os confrontos cessarem.

"Infelizmente não há muito a fazer além de proteger os funcionários e estudantes", lamenta.

"Temos recebido muitos relatos de que a situação piorou bastante no entorno do Jardim Miriambi e no Jardim Catarina. As escolas que ficam nessas comunidades tem tido aumento significativo de violência, com operações em horário escolar", afirma a diretora.

Segundo a Secretaria Estadual de Educação, a unidade escolar não fechou, mas a direção decidiu liberar os alunos mais cedo das atividades após consultar pais de alunos. "Os conteúdos perdidos das aulas serão repostos em data agendada pela direção", informou a secretaria em nota.

Entretanto, o Governo do Estado não informou quantos alunos estão matriculados no colégio e quantos ficaram sem aulas por conta da interrupção.

Polícia pede cooperação

Procurada, a Polícia Militar afirmou que faz rondas preventivas na área através do 7º Batalhão, porém, a prioridade são as áreas de mancha criminal. Para que uma área figure na manha criminal, destaca a PM, é preciso que a população registre os confrontos na delegacia.

"Ressaltamos a importância do acionamento do respectivo batalhão da área para que as ações imediatas, como a realização de cerco para prender criminosos", informou em nota.

< Moradores protestam contra despejo no Centro de Niterói Defesa Civil interdita ponte de Ponte Negra <