Trágico

Cem crianças foram mortas por tiros no Rio desde 2007, diz ONG

Casos foram contabilizados pela Rio de Paz nos últimos 16 anos

Thiago foi morto durante operação da PM na Cidade de Deus, no Rio
Thiago foi morto durante operação da PM na Cidade de Deus, no Rio |  Foto: Reprodução/Rede Social

A morte de Thiago Menezes Flausino, de 13 anos, nessa segunda-feira (7), durante uma operação da Polícia Militar (PM) na Cidade de Deus, Zona Oeste do Rio, marcou um trágica estatística. Segundo a Organização Não Governamental (ONG) Rio de Paz, Tiago é a 100ª vítima de arma de fogo - a maioria por bala perdida- no estado do Rio entre crianças e adolescentes de 0 a 14 anos desde 2007, quando a instituição começou a contabilizar os casos ocorridos nesta faixa etária.

Ainda de acordo com a ONG, o primeiro caso registrado no levantamento de dados foi de Alana Ezequiel, morta no dia 5 de junho de 2007, à época com 12 anos, durante um tiroteio entre policiais e traficantes no Morro dos Macacos, em Vila Isabel, Zona Norte do Rio.

Leia+: Adolescente morre durante operação da PM na Cidade de Deus

Leia+: Mãe de jovem executado na CDD classifica ação da PM: 'Covardia'

De acordo com o Rio de Paz, os casos ocorrem sempre em operações policiais ou então durante troca de tiros entre os agentes de segurança com criminosos, o que, no final, resulta na não descoberta dos autores dos assassinatos, aumentando ainda mais a dor da família das crianças e adolescentes.

“Em qual nação livre e desenvolvida crianças são sistematicamente mortas por bala perdida em confronto entre policiais e bandidos? Percebe-se na cultura das operações policiais do Rio de Janeiro uma histórica obsessão com a prisão e morte de bandidos em detrimento da segurança da população. Como resultado dessa anomalia, meninos e meninas pobres morrem de modo banal, e o caos instaurado há dezenas de anos na segurança pública não muda”, argumentou o fundador da Rio de Paz, Antonio Carlos Costa.

Ver essa foto no Instagram

Uma publicação compartilhada por Rio de Paz (@riodepaz)

Família acusa PM 

Os familiares de Thiago acusam a PM pela morte do adolescente. Segundo eles, os agentes entraram atirando na comunidade. Pelas redes sociais, a corporação informou inicialmente que um criminoso teria ficado ferido durante o confronto com policiais do Batalhão de Polícia de Choque (BPChq), no entanto, eles atualizaram o caso posteriormente com um comunicado oficial. 

De acordo com a PM, policiais do BPChq faziam patrulhamento quando viram duas pessoas em uma motocicleta na esquina da Estrada Marechal Miguel Salazar com a Rua Geremias, quando foram alvos de disparos vindo dos suspeitos. Em resposta ao ataque, ocorreu um confronto armado “após confronto, um adolescente foi encontrado atingido e não resistiu aos ferimentos".

Vale ressaltar que nenhum dos policiais do Choque estavam usando câmeras em suas fardas, o que inicialmente poderia ajudar a encontrar onde o disparo que atingiu Thiago foi feito.

O caso de Thiago está sendo investigado pela Delegacia de Homicídios da Capital. O comando da Polícia Militar informou também que instaurou procedimentos internos para apurar as circunstâncias do ocorrido e está cooperando integralmente com as investigações da Polícia Civil.

Memorial 

Thiago terá seu nome colocado no mural do Rio de Paz, na Lagoa Rodrigo de Freitas, Zona Sul do Rio. O local possui um memorial em homenagem às crianças e adolescentes que foram mortas por bala perdida e policiais assassinados vítimas de violência.

“Apresentamos as seguintes indagações ao governador do Estado do Rio de Janeiro: o que ele tenciona fazer pela família enlutada? O que essa morte trágica modificará na sua política de segurança pública?”, questionou o fundador da ONG. 

“A morte de crianças, como o Thiago Menezes Flausino, é o lado mais hediondo da criminalidade. A indiferença da sociedade, que recusa-se ir às ruas para protestar contra o assassinato desses inocentes, é sintoma de gravíssima patologia social. Indiferença que não seria encontrada no comportamento de muitos se os mortos não fossem pequeninos moradores de favela”, concluiu Antonio Carlos Costa.

< Atingido por aparelho em academia tem 1% de chance de andar Cinco dos oito atores de ‘Sai de Baixo’ já faleceram <