Crime sexual

Justiça mantém prisão de padre acusado de abuso contra crianças

Ele é suspeito de abusar de menores em paróquia no Rio

Padre foi afastado diante das acusações
Padre foi afastado diante das acusações |  Foto: Reprodução

A Justiça do Rio decidiu manter a prisão preventiva do padre Ramon Guilherme Pitilo da Silva Ramos, que foi detido em 24 de julho sob a acusação de abuso sexual contra duas crianças na Paróquia de Rio das Pedras, localizada em Jacarepaguá, na Zona Oeste da cidade.

A decisão foi emitida pela 3ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Rio e tornada pública na terça-feira (22). De maneira unânime, os desembargadores rejeitaram um pedido de habeas corpus apresentado pela defesa e optaram por manter a prisão preventiva do acusado.

O relator do caso, desembargador Carlos Eduardo Roboredo, ressaltou na decisão a seriedade da conduta do padre, que abusou sexualmente das vítimas em diversas ocasiões, aproveitando de sua posição religiosa na paróquia. Além disso, o relator destacou a importância de proteger a segurança e o bem-estar das vítimas.

Um jovem, atualmente com 20 anos, afirmou ter sido vítima de abuso sexual por parte do padre Ramon Guilherme quando frequentava o Seminário Arquidiocesano de São José, no bairro do Rio Comprido. Mensagens de e-mail entre os dois foram reveladas, pelo jornal “O Globo”, nas quais se evidenciam relatos de trocas de beijos e referências a toques íntimos.

Em uma das conversas, o religioso chegou a pedir orações, após perceber "que o demônio tem investido contra" a sua paz de espírito. A defesa do padre Ramon Pitilo nega ter conhecimento das acusações e do conteúdo das mensagens trocadas. A Arquidiocese do Rio de Janeiro tomou a medida de afastar o sacerdote e iniciou uma investigação sobre o caso.

O jovem, que agora vive na Região Nordeste, morou no Rio de Janeiro entre 2012 e 2019. Durante esse período, em 2013, ele conheceu o padre Ramon enquanto buscava orientação vocacional no seminário da Arquidiocese do Rio, com a intenção de se tornar também um seminarista. Naquela época, o padre Ramon estava recém-ingressado no Seminário.

O jovem alega ter tido encontros íntimos com Ramon Pitilo nas instalações do seminário, incluindo o banheiro e uma escada do prédio. Ele detalha beijos e toques durante esses encontros. Segundo ele, o padre aproveitou a amizade entre eles para se aproximar, especialmente considerando o período de sua própria descoberta sexual na pré-adolescência.

 "Eu não passava de um pré-adolescente me descobrindo sexualmente e cheio de hormônios", afirmou o jovem. Ele ainda relata que registrou o caso por estupro de vulnerável na 18ª DP (Praça da Bandeira).

“Em 2017, quando entrei no seminário, mantivemos a amizade. Eu tinha 14 anos e estava me descobrindo sexualmente. Acabamos nos aproximando e conversamos sobre sexo. Algumas fotos íntimas foram trocadas”, relatou ele ao jornal “O Globo”.

Troca de mensagens 

O relato inclui mensagens trocadas entre os dois que mencionam sua relação amigável, descrevendo os momentos compartilhados. Em uma dessas mensagens, o jovem menciona um beijo e expressa que está se aperfeiçoando nisso, ao que o padre responde com elogios e símbolos carinhosos.

Em outra conversa, há uma menção a um momento íntimo em que o jovem expressa seu desejo de ter tido um contato específico, ao qual o padre responde positivamente, sugerindo repetir a experiência.

O jovem também sugere locais de encontro, como os banheiros da capela ou do auditório, enquanto ambos discutem a conveniência dos horários e a presença de outras pessoas nas proximidades.

"Amanhã é muito arriscado, muitos ficam rondando pelo seminário", mensagem respondida pelo padre que, por ele, teria "feito hoje mesmo".

No entanto, em meio a essas conversas, o padre também menciona a necessidade de orações, citando a influência do demônio em sua vida.

"Hoje tive uma iluminação tão sublime sobre o amor a Deus e ao próximo. Peço que reze por mim. Apesar do chamado do Senhor e de seu carinho por mim, percebo que o demônio tem investido muito contra a minha paz de espírito", afirmou em mensagem.

Já em outra mensagem, ele reforça não saber o que queria e ainda fala sobre o pedido de oração.

"Querido, eu sinceramente não sei o que quero. Sei apenas que preciso que reze por mim e que se faça ainda mais próximo. Para que, quando a dor, eu possa ter mais alguém para me apoiar e me ajudar. Ainda mais com seu olhar que penetra minha alma".

Afastado

Um mandado de prisão foi emitido contra o padre em 21 de julho por uma juíza especializada em crimes contra crianças e adolescentes. O padre se apresentou à autoridade policial acompanhado de seus advogados em 24 de julho.

A Arquidiocese do Rio suspendeu as atividades do padre e iniciou uma investigação interna em relação ao caso.

O advogado Wallace Martins, representante de Ramon Pitilo, alega desconhecimento das acusações e das mensagens trocadas, e também menciona que o padre e um parente dele negam ter qualquer conhecimento sobre o assunto. 

Em nota, o advogado afirma que o padre nega todas as alegações de abuso sexual. "O padre refuta qualquer acusação nesse sentido. Estamos levando aos autos farto material probatório, inclusive com depoimentos de crianças da Paróquia, que afirmam, de forma peremptória, que o padre jamais agiu dessa maneira".

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