Política

Bolsonaro insinua chantagem de Moro por indicação ao STF

Presidente Jair Bolsonaro fez críticas a postura de Moro no Ministério da Justiça. Foto: Wilson Dias/Agência Brasil

Prometendo 'restabelecer a verdade', o presidente Jair Messias Bolsonaro (Sem Partido) fez um pronunciamento, na tarde desta sexta-feira (24), de poucas horas após o anúncio de demissão do juiz Sérgio Moro do Ministério da Justiça. O presidente revelou que considerava o magistrado 'um ídolo', mas insinuou uma chantagem por uma possível indicação ao Supremo Tribunal Federal (STF).

"Eu nunca pedi o andamento de qualquer processo, até porque a inteligência com ele perdeu espaço na Justiça. No dia em que eu tiver que me submeter a qualquer subordinado meu, eu deixo o cargo de presidente da República. Nos reunimos ontem (quinta-feira) e ele disse: 'você pode mudar o Valeixo sim, mas em novembro, depois de me indicar para o Supremo Tribunal Federal'", afirmou Bolsonaro.

Segundo o presidente, as relações estremecidas com Moro começaram ainda antes da campanha para a presidência. Bolsonaro relembrou o episódio em um aeroporto, em que teria sido "ignorado" pelo magistrado. Depois, revelou que o juiz solicitou uma reunião, assim que ele foi para o segundo turno, na companhia do adversário Fernando Haddad (PT).

"Sabia que não seria fácil. Uma coisa é você admirar uma pessoa, outra é conviver e trabalhar com ela. Hoje vocês conheceram aquela pessoa que tem compromisso consigo próprio, com seu ego e não com o Brasil (...) Confesso que fiquei triste, porque era um ídolo pra mim, eu era apenas um deputado na época. Não vou dizer que chorei porque estaria mentindo. Para minha surpresa, dias depois recebi um telefonema dele", disse.

https://twitter.com/SF_Moro/status/1253793469627326464

Demissão

O ministro da Justiça Sérgio Moro anunciou a demissão do cargo durante entrevista coletiva, na manhã desta sexta-feira (24). O aviso foi feito após publicação no Diário Oficial da União anunciando a exoneração a pedido (quando o servidor pede para sair) do diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo.

Na coletiva, Moro comentou sobre uma possível indicação ao STF. Segundo o magistrado, a divulgação dessa condição para assumir o ministério foi "equivocada", uma vez que queria apenas que a "família não ficasse desamparada, sem uma pensão".

"No final de 2018 recebi o convite de Jair Bolsonaro para ser ministro da Justiça e da Segurança Pública. Foi conversado que teríamos um compromisso no combate a corrupção, crime organizado. Foi me prometido carta branca para nomear os assessores. Na ocasião foi divulgado equivocadamente que eu teria estabelecido como condição uma nomeação ao Supremo Tribunal Federal. A única condição que coloquei foi, como eu estava abandonando 22 anos da magistratura, pedi apenas que se algo me acontecesse, a minha família não ficasse desamparada, sem uma pensão", disse.

Interferência nas decisões

Bolsonaro adotou um tom cronológico no pronunciamento para contar sua relação com Moro, dentro e fora das paredes do Governo. Segundo o presidente, a mudança na diretoria da PF não tem o objetivo de interferir em investigações e processos. Mas sim, de garantir uma interação entre os poderes.

"Moro disse que tinha uma biografia a zelar e eu digo a vossa senhoria que eu tenho o Brasil a zelar. Falava-se em interferência minha, mas se eu posso trocar o ministro, eu não tenho que pedir autorização para trocar um diretor ou qualquer outro que esteja na pirâmide hierárquica do poder Executivo. Eu tive quase que pedir ao Moro para apurar quem tentou matar Jair Bolsonaro. Com todo respeito a todas vidas do Brasil, mas acho que a vida do presidente da república tem um significado", disse.

Publicado às 17h42 e atualizado às 18h12

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