Um vídeo está circulando nas redes sociais no qual um padre toca atabaque junto com pessoas de religião de matriz africana. O caso aconteceu no dia da festa de São Jorge, no dia 23 de abril, em uma igreja em Campinas, interior do estado de São Paulo. O padre explicou ao ENFOCO que lutar contra a intolerância religiosa é uma das missões de sua vida.
"Eu tenho uma aproximação muito grande com o povo do axé. Em 2020, antes da pandemia, eu tive uma parada cardíaca, dois AVCs, hipopotassemia, fiquei em coma, fui a 'óbito' e voltei. Nesta viagem no coma, São Miguel Arcanjo mandou eu voltar e trabalhar em prol de quebrar as barreiras contra o povo do axé que rezou muito para que eu voltasse para casa. Então por isso eu tenho uma caminhada com ele", contou Pedro de Paula.
O líder religioso explicou também o porquê da gravação do vídeo. “Durante a procissão do dia de São Jorge, o povo do axé veio participar com a gente e, no final, eles fizeram uma homenagem a Ogum. Aí eu decidi entrar na manifestação cultural porque respeito todas as linhas religiosas".
Mas a luta de Pedro de Paula contra a intolerância religiosa vai além das imagens registradas, inclusive ele frequenta terreiros quando é convidado para participar dos ritos e das festas. Ele afirma que já é uma figura carimbada quando se trata dessas manifestações culturais.
Embora atualmente o padre frequente os centros a convite, já houve momentos em sua vida que ele ia por vontade própria, como em sua adolescência quando ele chegou a ser curado de uma doença que possuía na pele.
Mesmo sabendo do enorme preconceito que as pessoas carregam principalmente em relação a religiões de matriz africana, o padre afirma que essa não é a única batalha que busca mudanças. Pois ele faz parte da igreja anglicana, que é a igreja católica da Inglaterra que tem raízes no Catolicismo e do qual mantém muitas tradições. Mas ganhou forma em meio à Reforma Protestante do século XVI, tornando-se mais inclusiva.
"O preconceito existe mesmo, mas eu estou aí colocando a cara na reta pra quebrar todo preconceito. Não só contra as religiões de matriz africana, mas contra a homofobia, a transfobia porque eu dou todo apoio à comunidade LGBTQIA+, inclusive celebro casamentos homoafetivos, batizo filhos de casais de dois homens ou duas mulheres. Religiões são idiomas, mas Deus é poliglota. Ele conhece todas as línguas e todas as religiões", afirmou o líder religioso.
Ivanir dos Santos, que é interlocutor da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR), afirmou que a postura do líder religioso é uma ação positiva.
"Um belíssimo exemplo na prática do respeito à diversidade e à liberdade religiosa. O fato de um sacerdote católico se juntar com umbandistas e candomblecistas e tocar um atabaque no ambiente público demonstra que ele não tem nenhum preconceito em relação a essas pertenças religiosas da umbanda. Então eu acredito que simbolicamente é um passo importante pro respeito à adversidade", argumentou o babalawô.