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Dos livros de história para o cotidiano da cidade de Maricá

Há quatro anos a aldeia indígena Tekoa Ka’ Aguy Ovy Porã, que em português significa Aldeia Mata Verde Bonita, ganhava da prefeitura de Maricá 93 hectares de terra no bairro de São José do Imbassaí. Toda a área foi ocupada por 16 famílias que deixaram o assentamento na Região Oceânica de Niterói depois de uma série de conflitos. Lá, o espaço é considerado um sambaqui, uma terra sagrada por ter abrigado um cemitério indígena no passado. A especulação imobiliária no local iniciou uma campanha pelas terras e, após inúmeras brigas judiciais, os índios garantiram junto ao Ministério Público que a reserva ambiental fosse tombada, mas em troca precisaram abandonar a região.

Para as 72 pessoas que moram na aldeia, a decisão só trouxe benefícios. Com o apoio da prefeitura de Maricá, os índios encontraram na antiga restinga de São José, um lar.

“A gente tem uma oportunidade única aqui, porque hoje tem índio morrendo, tem fazendeiro morrendo, no meio disso tudo, nós somos privilegiados, aqui não tem guerra, aqui nós temos paz”, diz Darcy Tupã, cacique responsável pela aldeia.

Para receber os índios, a prefeitura preparou uma megaestrutura que incluiu saúde, educação e verbas para a construção das moradias. Hoje, anos após a ocupação, o poder público ainda mantém o suporte. Semanalmente, a aldeia recebe a visita de profissionais de saúde para acompanhar o quadro clínico dos moradores. Uma professora da rede municipal de educação assume o compromisso de alfabetizar as crianças na língua portuguesa e dar aula para todos até a 5ª série. Além disso, a prefeitura ainda garante apoio e incentivo ao turismo local.

Mesmo com os avanços tecnológicos e a modernidade do novo século, na aldeia Tekoa Ka’ Aguy Ovy Porã, os costumes indígenas são preservados. O guarani é ensinado aos pequenos desde que aprendem a falar e a comunicação entre os integrantes do povoado é feita através da língua nativa.

A professora e moradora da aldeia, Jurema de Oliveira, ensina o Guarani aos índios e fala sobre a importância da escola diferenciada.

“É muito bom porque eles aprendem o português, mas aprendem a nossa língua também. Aqui a gente preserva a nossa cultura, contamos nossa história, como é hoje e como foi lá atrás”, diz ela.

A comida é feita em fogões a lenha, colhida nas plantações encontradas na própria aldeia. Os canteiros de batata-doce, aipim e inhame, entre outros vegetais, suprem a necessidade das famílias. O peixe vem da grande lagoa do bairro, que corta as terras indígenas. As bebidas são adoçadas com o mel retirado de um apiário também cultivado no grande espaço verde.

Toda a estrutura encontrada no povoado é ecologicamente correta. As ocas foram erguidas com bambu, madeira e barro. O saneamento básico é feito por bacias de evapotranspiração, utilizando pneus velhos e bananeiras, tudo para preservar o meio ambiente.

A boa estrutura também é uma forma de fazer com que os índios priorizem ficar na aldeia, pois mesmo com a receptividade encontrada em Maricá, o cacique Darcy Tupã diz que o medo de ir para a cidade ainda existe.

“Fora da aldeia não somos nós, a gente tem que ficar aqui. Se quiserem conhecer a nossa cultura, tem que vir aqui. Índio não tem que sair da aldeia, correndo risco de apanhar, como aconteceu lá em Paraty" , disse ele, referindo-se às brigas por território no município de Paraty, no sul fluminense.

Por conta desse medo, os índios em conjunto com a prefeitura, estão criando novos projetos no âmbito da educação, como a implantação de uma nova escola, com aulas até o ensino médio, para que os moradores não precisem sair do povoado para continuar os estudos. Outra forma de manter a população na aldeia é através do incentivo ao turismo.

“Quando você é índio, não tem que sair da aldeia pra ir para o mundo, porque o mundo é difícil” diz Darcy Tupã.

Para receber visitantes e prover a subsistência, eventos são realizados com frequência no espaço. Segundo o cacique, quem vai ao local nos finais de semana encontra os índios vestidos com suas roupas típicas, feira de artesanato, restaurante servindo almoço preparado em fogão a lenha, dança, e até um bar funcionando ao som de músicas variadas, servindo diversos petiscos. Além de tudo isso, os visitantes ganham a oportunidade de ver as belezas e encantos do local, uma experiência única de contato com a natureza e com a cultura e história nacionais.

Para quem quer conhecer o espaço, a aldeia indígena fica na saída do km 19 da RJ-106, em direção à praia da Barra de Maricá. Os índios são receptivos e estão sempre de portas abertas. Vale ou não vale a visita?!

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