Política

Moro confirma em depoimento interesse de Bolsonaro na PF do Rio

Depoimento de Moro reitera troca na PF do Rio como pivô da crise com Bolsonaro. Foto: Marcos Corrêa/PR

A íntegra do depoimento prestado pelo ex-ministro da Justiça Sérgio Moro na superintendência da Polícia Federal em Curitiba, no Paraná, obtida pela imprensa nesta terça-feira (5), traz novos componentes para entender a crise entre o ex-juiz e o presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Moro deixou o cargo de ministro da Justiça e Segurança Pública acusando o presidente de interferência política na Polícia Federal e depôs no último sábado (2). O posto foi ocupado pelo advogado André Mendonça.

Moro entregou aos delegados o histórico de troca de mensagens com o chefe do Executivo e com a deputada federal bolsonarista Carla Zambelli (PSL).

Em uma das mensagens apresentadas pelo ex-ministro, conforme consta no depoimento, o presidente afirmou:

"Moro, você tem 27 superintendências, eu quero apenas uma, a do Rio de Janeiro"

Apesar das alegações do presidente nas mensagens, Moro garantiu aos delegados que não escolhia os nomes para as superintendências regionais. No depoimento, que durou cerca de oito horas, o ex-juiz reiterou as denúncias da coletiva de imprensa concedida em 24 de abril, quando se demitiu do cargo.

Conforme relatou em depoimento, Moro foi reiteradamente sondado sobre a troca da superintendência do Rio de Janeiro, então chefiada por Ricardo Saad. Sob pressão, ele saiu do cargo em agosto de 2019 alegando motivos pessoais. A corporação, então sob direção de Maurício Valeixo, resistiu à troca e indicou o delegado Carlos Henrique no cargo.

Ainda segundo o ex-juiz, Bolsonaro 'passou a insistir na substituição do diretor da PF, Maurício Valeixo'. Essas tratativas teriam ganhado força em janeiro deste ano. Segundo Moro, a intenção de trocar foi manifestada por Bolsonaro, inclusive na presença do General Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI).

Na impossibilidade de indicar a chefia para o Rio, explicou Moro em juízo, Bolsonaro teria optado por substituir Valeixo. A substituição culminou no pedido de demissão do então ministro.

Com o caminho livre o presidente ainda tentou conduzir Alexandre Ramagem para o cargo, mas acabou impedido por uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).

O novo diretor da PF, Rolando Alexandre de Souza, determinou a troca da regional do Rio. O delegado Carlos Henrique, por fim, deixou a posição para ocupar o cargo de ‘02’ na corporação.

Bolsonaro nega

Em resposta, o presidente Jair Bolsonaro se pronunciou atacando Moro pelo vazamento de informações à imprensa.

"Eu confiava nele, tanto é que passava extrato de informações com chefes de Estado e com inteligência de fora do Brasil"

Sobre o depoimento de Moro, o presidente comentou que ainda vai analisar o processo com sua equipe jurídica.

"Se bem, pelo que parece, em nenhum momento ele fala que eu cometi crime. E sim, o MP [Ministério Público], o ministro do Supremo, que é o dono do inquérito, deve me investigar, ouvir ministros e outras pessoas para dizer se talvez eu cometido um crime", afirmou Bolsonaro.

Publicado às 20h

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