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Noite de protestos na Zona Norte do Rio após mortes em ação no Jacarezinho

Publicada às 18h / Atualizada às 21h34

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Protesto tomou a Avenida Dom Hélder Câmara, na zona norte da cidade. Foto: Vitor Soares

Após o confronto entre policiais civis e acusados de integrarem o tráfico de drogas na região na comunidade do Jacarezinho, que resultou, nesta quinta-feira (6), em 25 pessoas mortas, entre elas um policial civil, grupos e lideranças políticas e sociais fizeram um ato em frente à comunidade, na Avenida Dom Hélder Câmara, Zona Norte do Rio, na tarde desta sexta-feira (7). A concentração aconteceu na quadra da Unidos do Jacarezinho.

Com faixas e camisas com os dizeres 'Contra o genocídio, rebelar-se é justo', e '25 mortes não é operação, é genocídio', os integrantes dos diferentes movimentos saíram às ruas para chamar a atenção das autoridades sobre, segundo eles, a política de mortes usada contra a população nas favelas. O protesto avançou pela avenida e seguiu até a entrada da Cidade da Polícia, quartel general da Polícia Civil de onde partiram os policiais para a operação desta quinta-feira (6).

"É uma política genocida e cruel com a população preta e de periferia. Desse jeito não dá mais. Ou mudamos essa maneira de enfrentar o crime ou teremos cada vez mais mortes, e a gente não aguenta mais", contou um dos participantes do ato.

Na frente do local, policiais do batalhão de Rondas Especiais e controle de Multidão (RECOM) fizeram um cordão de isolamento para evitar que os manifestantes chegassem à porta da Cidade da Polícia. O trânsito ficou complicado em ambos os sentidos e policiais militares orientaram os motoristas. Moradores também se misturaram em meio às pessoas para protestar contra as mortes.

Manifestantes se reuniram com faixas e cartazes após a morte de 25 pessoas na comunidade do Jacarezinho, Zona Norte do Rio. Imagens: Karina Cruz

Um dia após a operação, o clima ainda era de tensão nos acessos à comunidade. Viaturas da Polícia Militar foram posicionadas por toda extensão da Avenida Dom Hélder, via principal que corta a região. A operação já é considerada a mais letal da história do Rio de Janeiro. Famílias ficaram durante toda esta sexta no Instinto Médico-legal Afrânio Peixoto, no Centro, em busca de informações dos parentes mortos durante a operação.

Especialista em segurança pública, Paulo Storani não acredita que o volume de mortes causados na operação possa ter sido em resposta da polícia por conta de ter perdido um agente. Segundo ele, a resposta, nesse caso, acontece de maneira natural, e não intencional.

"A operação fala por si só. Pelo que eu soube, o policial estava tentando desobstruir a via de barricadas e foi atingido, então foi uma execução. Ele não estava trocando tiros e foi morto pelas troca de tiros. Ele foi executado. Pode ter ocorrido um ânimo maior por conta da situação e não existe no mundo um combatente que esteja completamente capacitado e achar que essas situações não vão interferir no processo de tomada de decisão, quando atirar, ou como atirar. Pode ter acontecido isso, mas não foi intencional, foi quase que uma resposta natural por conta de um estímulo externo e controlar isso é muito difícil. Não me lembro de polícia no mundo que faça isso", diz Storani

Segundo a Polícia Civil, o laudo da inteligência da corporação indica os 18 primeiros mortos identificados tinham antecedentes criminais. A ficha e as identificações de cada um, no entanto, ainda serão apresentadas após exames de perícia e necropsia.

Vazamento

A operação que terminou com mais de 20 mortes foi considerada por órgãos e instituições sociais como a mais letal do estado do Rio. Relatórios com as informações dos criminosos em levantamentos feitos pelo Ministério Público foram apreendidos, pela polícia, no interior da comunidade, dando a entender que houve vazamento de informação e que os criminosos se anteciparam quando a polícia resolveu entrar na comunidade.

MP

O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) investiga as circunstâncias da morte de 25 pessoas na operação da Polícia Civil contra o tráfico de drogas, realizada nesta quinta-feira (6) no Jacarezinho, na Zona Norte do Rio. Com atribuição para atuar no caso, a 1ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal Especializada da Capital instaurou procedimento de investigação criminal para apurar se houve violações a direitos durante a operação policial.

O órgão afirma que "todas as medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis em decorrência dos fatos ocorridos estão sendo tomadas pelo MPRJ, que na data de ontem esteve presente na comunidade, acompanhando os desdobramentos da operação. Cabe destacar ainda que o MPRJ acompanha a perícia nos corpos das pessoas mortas durante a intervenção policial. Para isso, um médico perito da instituição teve acesso integral às dependências do Instituto Médico Legal (IML), onde chegaram os corpos na manhã desta sexta-feira (7)", diz a nota.

Cláudio Castro

Pela primeira vez falando a respeito da operação, o governador do Rio, Cláudio Castro, se manifestou sobre a ação que resultou nas mortes na comunidade do Jacarezinho. Castro disse que a polícia "foi fiel no cumprimento de dezenas de mandados expeditos pela Justiça". O chefe do Executivo estadual lembrou dos investimentos feitos nas polícias e disse ainda que o "Estado é o maior interessado em apurar as circunstâncias do fato".

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